Pesquisadores da Unesp de Araraquara(SP) ajudaram uma empresa privada a desenvolver uma bioválvula que pode simplificar as operações no coração. O tempo de uma cirurgia tradicional pode ser reduzido de quatro horas para até 40 minutos. O custo do material ainda é alto, mas os pesquisadores acreditam que futuramente ele possa ser usado no Sistema Único de Saúde (SUS).
A aposentada Ivone de Freitas passou por um operação delicada após um problema no coração. O tórax teve que ser aberto e a cirurgia foi longa e complicada. “Foram oito horas. Fiquei 10 dias antes da cirurgia e mais 12 dias para recuperar. Foi difícil”, disse.
Para evitar o desconforto da cirurgia tradicional, pesquisadores da Unesp em Araraquara ajudaram a criar uma válvula cardíaca, implantada de forma menos invasiva e mais rápida. A técnica é indicada para pacientes idosos, de alto risco.
A válvula pesa três gramas, tem 30 milímetros de diâmetro e foi feita com uma membrana que reveste o coração do boi. O produto desenvolvido por uma empresa privada foi aperfeiçoado por cientistas do Instituto de Química. Antes, a válvula tinha uma liga metálica de aço, menos resistente.
“Passou a ser cortada a laser e testamos vários materiais, dentre eles a liga metálica de cobalto cromo. Foi a que ofereceu a melhor resposta, o melhor acabamento, bastante atualizado e que tem biocompatibilidade com o organismo, menos rejeição”, explicou o coordenador do Grupo de Biomateriais da Unesp, Antônio Carlos Guastaldi.
Com ela, o implante é bem mais simples. Os médicos fazem um pequeno corte na costela e, com um cateter, introduzem a válvula fechada. Quando chega ao coração, ela abre, como um guarda-chuva.
“Uma cirurgia tradicional pode durar de três a quatro horas. Essa nova técnica em mãos hábeis [o tempo de cirurgia chega] a no máximo uma hora, 40 minutos. Permite que pacientes que antes não tinham acesso ao tratamento, possam ter. Só aí já é um avanço importante”, analisou o cardiologista João de Freitas Júnior.
Ao todo, 250 pessoas já passaram pela cirurgia. O procedimento é usado em pacientes com estenose aórtica, quando a válvula não abre completamente e reduz o fluxo de sangue. “É a primeira transcateter desenvolvida no Brasil, a única válvula nacional”, afirmou o diretor de produtos Guilherme Agreli.
Alto custo
O problema é o custo, que não sai por menos de R$ 70 mil. A rede pública de saúde não cobre o procedimento. “Os custos envolvidos num primeiro momento são altos, mas, como tudo aquilo que é difundido de uma forma mais ampla, a tendência é que esses custos caiam e se possa expandir o uso para a população atendida pelo SUS”, ressaltou Freitas Júnior.
O Ministério da Saúde não conhece a nova válvula e por isso não comentou a possibilidade de usar o produto na rede pública.