A primeira reação do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), de refutar o pedido de manifestantes para revogação do aumento das tarifas de ônibus, trará a ele consequências políticas negativas. A avaliação é do professor titular de sociologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Ricardo Antunes.
— O ônus político que ele sofreu é incalculável. Em parte é recuperável. Mas não tenho dúvida de que essa oscilação mostrará um aparente traço autoritário de "eu não negocio, eu não abaixo, eu não faço".
Haddad relutou em atender à solicitação dos movimentos sociais, encabeçados pelo MPL (Movimento Passe Livre). No dia 14, ele afirmou que a redução da tarifa de ônibus não estava em consideração pelo governo municipal, porque não havia fonte de financiamento para mais subsídio. A passagem foi reajustada para R$ 3,20 no início do mês, e na quarta-feira (19) — após conversa com a presidente Dilma e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — o prefeito anunciou a revogação o aumento.
O movimento, que se espalhou por diversas cidades do País, também conseguiu reduzir o valor das passagens do Metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). O governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), também cedeu e recuou quanto ao aumento.
Antunes nega, no entanto, que Haddad prejudique sua imagem por não ter tido “pulso firme” para manter sua decisão.
— Não é questão de pulso firme, porque um prefeito tem de ouvir a população. Esse ato do Haddad [a irredutibilidade em um primeiro momento] mostra que ele não entendeu a cidade onde ele está governando. Nenhum prefeito, governador ou presidente, mediante uma demanda popular tão justa pode dizer "não vou voltar [atrás]!", pois todos nós sabíamos que bastaria esse movimento ganhar a amplitude que ganhou que ele voltaria.
Já para Pedro Fassoni Arruda, professor do departamento de Ciência Política da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de SP), o impacto na imagem de Fernando Haddad ainda não pode ser medido. Arruda avalia que o processo da redução do valor da passagem ainda está em andamento, o que dificulta a análise.
— Ainda é prematuro [tirar alguma conclusão]. Não foi realizada nenhuma pesquisa de opinião para saber sobre a aprovação, a popularidade do prefeito.
Arruda destaca que o movimento não era contra o prefeito, mas sim contra o reajuste no valor das tarifas. Ele lembra que a opinião pública não é homogênea e mudou no decorrer das manifestações.
— Acredito que a maior parte das críticas tenha sido com referência com a atuação da Polícia Militar. O impacto das imagens [da violência policial] foi muito grande, por isso acredito que a imagem do governador Alckmin tenha sido mais comprometida do que a do prefeito.